Acompanhando o tema do post anterior (aqui) há um assunto que me faz perder alguns momentos do dia, e como sou coruja, alguns muitos momentos da noite, rs.
O tema de hoje é a busca enfurecida da puericultura ocidental pela tão sonhada independência das crianças.
Não é loucura comparar que para nossa sociedade o que é bom dura pouco, não dói, não cansa e não exige muito de nós. Sempre há um caminho do meio. Por conseguinte parto bom é parto rápido e indolor, se o parto levou 30 horas logicamente foi uma tragédia. A criação dos filhos segue a mesma linha, tanto é que podemos ver diariamente a abundância de softwares, produtos, e ítens adultos cada vez mais adulterados em prol de alcançar o mundo infantil. Há inclusive produtos que em nossa cabeça fazem parte da infância, como os doces, quanto mais cores e brilhos e açucar mais propício para a infância, será mesmo?
Bom, voltando ao assunto, hoje quero compartilhar meus devaneios quanto a tal da independência.
Seguindo a linha de raciocínio que eu coloquei acima sobre o que é bom dura pouco e não dói, temos que a qualidade da maternagem está diretamente relacionada a independência dos filhos. Como mãe posso falar, nós comparamos sim nossos filhos com os filhos dos outros, alguns comparam menos e outros mais, alguns sabem que comparar é algo totalmente desnecessário e conseguem ter controle dos pensamentos e sentimentos, outros não, e daí nasce a competição do mundo maternal. Competição essa que leva nada a lugar algum.
Vejam a cena:
Duas mães se encontram no consultório pediatrico.
Uma mãe sorri para a outra, e juntas sorriem para as crianças
Mãe 1: - Que gracinha sua filha, quanto tempo ela tem?
Mãe 2: - Ah obrigada. Fala obrigada pra tia filha. Ela tem dois anos e meio.
Mãe 1: - Ah que legal, a mesma idade do meu filho. E aí, ela dorme a noite toda?
Mãe 2: - Nossa, acredita que ela sempre dormiu a noite toda?
Mãe 1 se sente uma má mãe pq seu filho acorda duas vezes para mamar.
Mãe 1: - Nossa meu filho tá dificil pra comer.
Mãe 2: - Nossa menina, ela parece o menino do comercial do brocólis? Eu coloco o prato na mesa e ela come sozinha.
Mãe 1 se sente um lixo de mãe
Mãe 2: - Com quanto tempo você desfraldou seu menino
Mãe 1: - Ele usa fralda ainda. (quando passa o bonde para as montanhas?)
Mãe 2 olha para a Mãe 1, muda o assunto com aquela cara de pena.
Mãe 1 volta para a casa se sentindo uma péssima mãe. Como dependente é seu filho.
Quem nunca passou por isso? Quem nunca foi mãe 1? Quem nunca foi Mãe 2?
E aí eu pergunto em algum ponto se mostrou detalhes da qualidade da maternagem? Quem é mais independente? Vamos para com esses assunto de qualidade de maternagem pq isso não é mensuravel.
Colquei a sitação acima, porque vejo muito a procura pela independência, as mães procuram sinais sólidos de sua influência positiva na vida dos filhos. Acredito que por ser os sentimentos subjetivos e pouco palpaveis a saúde emocional seja algo um pouco distante para as mães que procuram resultados concretos.
A criança independente dorme no berço? A criança independente come sozinha? A criança independente nao adormece no peito? A criança independente não faz birra? A criança independente senta sozinha e fica quieta no restaurante? A criança independente se higieniza sozinha?
E aí a pergunta que não quer calar, estamos falando de qual independência? Ou melhor a independência de quem?
Sim, a criança pode ter condições de auto cuidado, e ficar sozinha, e dormir sozinha e ser uma criança independente. Mas a criança também pode ter suas necessidades de autocuidado, usar fralda, e precisar da presença de sua mãe ativamente e ser sim uma criança independente, apenas ainda não está no seu momento de realizar tarefas sozinhas, ou ainda não ter maturidade para tal. Algumas crianças alcançarão maturidade precocemente outras demorarão mais, mas acho que pouco falamos da independência emocional.
Nos prendemos demais analisando, e querendo fazer nossos filhos serem precoces, lutando contra inimigos imaginários e esquecemos que muito mais importante do que um desfralde as pressas com 1 ano de vida, é uma boa relação afetiva que conduzirá a um controle dos esfincteres mais eficaz e um desfralde a seu tempo. Mais importante é sanar as necessidades de uma criança, atender seu choro, oferecer-lhe o colo, permitir que explore o mundo, que conheça os ambientes, que conheça as pessoas, e permitir que evolua. Onde está a independência de uma criança que dorme sozinha a noite toda, porém não é permitida a liberdade de exploração?
E será que não estamos olhando num espelho e vendo nós mesmos? Será que a independência não é minha ao procurar loucamente que meu filho coma, durma, se higienize e se comporte sozinho? Será que os pais inconscientemente não procuram exageradamente pela própria independência?
E eu te digo, um dia seu filho irá sair das fraldas, irá comer sozinho, irá dormir sem o calor do peito ou sem ser embalado, irá ficar sozinho e até se comportar no restaurante. Não conheço nenhum adulto que receba comida na boca, estando em boas condições de saúde, então, todos os adultos são independentes? Não, não. Conheço adultos que moram sozinhos, que tem ótimos empregos com altos cargos, uma vida próspera e são dependentes, dependem de suas muletas emocionais. Dependem da opinião de outros, dos sentimentos de seus conjuges, do controle dos seus filhos, das amarras sociais, de um relação pouco afetiva com seus pais, etc.
Então vamos pensar na independência um pouco além do desfralde precoce? Sim, sei que esse é um dos primeiros passos na vida de um adulto, mas então vamos pensar na qualidade dessa independência, vamos pensar que para ser independente é preciso ter uma boa dependência primeiro. E não sei, não entendo o motivo de essa ser a maior preocupação das mães, pois com amor e afeto a independência virá, e virá tão rápido que mal poderemos acompanhar,
num piscar de olhos saem de nossas barrigas e no outros levantam voo, e a nós só nos resta acreditar que fizemos o melhor para este passarinho sempre a sua casa voltar.
Um abraço
Thaiane
Sabe que eu penso nisso muito também... nao precisamos apressar nada. Tudo tem seu tempo certo e essa fase deles é tao importante para a formação.
ResponderExcluirPor que não nos inundarmos disso ne?
beijos
Lele
#amigacomenta