quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Relato de Parto : do domicílio para a cesárea



Este relato levou 39 semanas para ser feito, assim como Henrique foi gerado por 39 semanas.
Desde o parto do meu primeiro filho, que tem o relato aqui, eu sonho com a minha segunda viagem pela partolandia. Nicolas nasceu em maio de 2011 num parto domiciliar maravilhoso, com 41s3d, nasceu rapidamente, com 2820g e 48cm um tiquinho lindo de bebê, e desde este dia eu sonho com esta nova jornada que descrevo aqui.

Descobri  esta gestação durante o acompanhamento de um trabalho de parto, fui tomada por um misto de alegria, euforia e de uma sensação desconhecida de que esta jornada seria totalmente diferente da anterior. 
Por ser parteira tentei ao máximo levar uma gestação no meu modo mulher, fui em cursos de gestantes com meu marido, li muuuuitos livros sobre gestação e parto, fiz pilates, yoga, hidroginástica, dança, pratiquei hipnose e mindfulness, fazia consultas de pré-natal com minha obstetra e com as parteiras, preparação do períneo com a fisio, e tudo seguia bem, mas sempre a sensação de que seria diferente.
Ahh, engravidei dos dois no mesmo dia, a DPP de ambos era 14/05.

Foi no morfológico que meu coração tremeu, percentil 90 em peso, sei que USG não é balança, e eu de verdade nao conseguia compreender o motivo daquilo me deixar inquieta, pois bebês grandes nascem. Já vi varios bebes gorduchos nascendo em partos fantasticos. Mas eu sentia algo que nao conseguia descrever. Tanto que decidi não fazer mais USG, a gestação estava evoluindo bem, o pré natal super bem feito, todos os exames estavam dentro da normalidade, e eu segui a gestação de forma tranquila, trabalhando normalmente e tendo minhas atividades de gravida, tanto que atendi meu ultimo parto com 38 semanas, uma semana antes do meu próprio parto.
E, numa sexta-feira com 38s5d eu acordei com cólicas,  fui ao banheiro e o tampão que estava saíndo desde as 32 semanas, havia mudado de cor e estava tingido de sangue, opaaa, em breve teremos novidade, segui a vida, porém as contrações começaram a vir, sem rítmo, eu sabia que estava em pródromos e tentei levar a vida adiante, no limite do possível. Cada dia que passava a coisa ficava mais difícil, eu não conseguia andar pois eu sentia muita, muita, muita dor no púbis, e as contrações chegavam com dor. Passei o final de semana com dor e de mau humor, na segunda feira, saí para comprar algumas coisas que faltavam, e eventualmente eu precisava parar pra esperar a contração passar, disfarçava para as pessoas não perceberem, tentei levar adiante, as contrações já estavam a cada 7 minutos, e essa noite foi uma das mais dificeis, tive cólica de rim, passei a noite no chuveiro, implorando para as contrações não piorarem, eu tinha medo de entrar em trabalho de parto com cólica de rim. Amanheceu, a cólica de rim passou, e as contrações pioraram mais um pouco, a Rafa minha parteira passou aqui em casa pra me dar um oi, e eu já estava desconfortável, mas como estavam sem ritmo eu tentei não dar atençao. 
Confessei a ela que eu estava com medo, sentia que a experiencia seria diferente, meu coração dizia que não seria fácil como foi o outro. Conversamos e ela me disse pra fazer uma seção de Theta healing, chamei a Vivian (Além do olhar) e fizemos nossa seção, meu medo era ir pra cesárea, e eu sentia que não estava deixando o parto fluir por conta desse medo.

Terminamos a seção por volta das 22:00, chamei o marido pra assistir Orgasmic Birth pela milésima vez, assim que terminou, ouvimos nós dois um barulho PLOC, e ele perguntou se aquilo havia sido na barriga. Eu disse que sim. Fui ao banheiro calcinha bem molhada, mas duvidei da possibilidade de ser bolsa rota, e fui dormir.
Ás 03:00 da manha eu sonho com a Vivian dizendo pra eu ir ao banheiro que minha bolsa iria romper, e acordo com uma contração muito forte, bem mais forte do que as outras que estava me acordando há dias, chego ao banheiro e PLOC liquido esbranquiçado escorre pelas minhas pernas, bolsa rota.
Ok, Ok. tento deitar e dormir, mas as contrações começaram a vir muito fortes, a cada 5 min. Fico feliz, sentindo que evoluiria rápido, cada uma mais forte que a outra, me lembrava o parto do Nico, espero pouco mais de uma hora e Chamo as parteiras (Rafa e Vanessa), chega a doula (Cláudia) também, e o dia amanhece e as contrações mantem com boa intensidade, porem elas perdem o ritmo e se distanciam. Tento dormir, mas nao consigo, elas são dolorosas apesar de distantes, me entrego, não penso em nada, deixo a coisa fluir. Passo o dia assim contrações fortes, a cada 5-10 min. E já um tanto cansada! Mas um dia muito alegre, de muitas risadas, uma boa lembrança.

Ás 18:00 peço para que seja feito um exame de toque, e eu sabia exatamente o toque, eu sabia a dilatação e a altura do bebê, eu só queria ouvir algo diferente daquilo que eu sentia, mas nao era. Estava com 5 cm, bebê flutuante na pelve, e ainda tinha um bolsão de liquido. Pedi para todo mundo ir embora, eu iria tentar dormir, e desencanar. Antes, fizemos trocentos exercicios, Gail, Naoli, Yoga, tudo.
As 20:00 entrei no chuveiro e conversei longamente com ele, pedi, chorei, perguntei, aceitei e entreguei. Fui pra cama, mas as contrações eram muito dolorosas. As 21:00 a dor piorou, e piorou muito, e ficaram a cada 3-4 min, Pedi pra Rafa vir ficar comigo. Quando ela e a Vane chegaram, fizeram outra manobra, que foi muito dolorosa, toque 6cm, bebe repousado no pubis, lá nas alturas. Depois entrei na banheira, a dor já estava próxima da dor que eu senti quando o Nico estava prestes a nascer, mas eu me entreguei.
Entrei na piscina, coloquei minha playlist, elas eram minhas ancoras hpnóticas, e foi uma experiência maravilhosas, em meio as ondas eu me perdia num mar de quietude e calmaria, sem noção de onde ir ou ficar, eu estava completamente dentro de mim. Cantei muitas musicas, e eu estava absolutamente em paz, num frenesi, onde só existia Henrique e eu, num único corpo, viajando por um lugar qualquer, sem destino, sem tempo, sem pressa. Eu não via ninguem, eu não sentia ninguem, mas eu sentia a presença do mundo todo. Como se todas as mulheres do mundo estivessem conectadas a mim. Estavamos ancorados neste mundo, mas viajando por outro qualquer. 
Eu sabia que o Gustavo estava ao meu lado, eu sentia a presença dele, mas nao conseguia sequer sentir o seu toque em minha mão, o que fui ver mais tarde em algumas fotos. Eu não escutava nada além da minha voz e das minhas musicas. Eu não via nada além de mim e do meu bebê! E a dor avançava, e eu cada vez mais me aprofundava em mim mesma, num cantinho em mim, escondido, misterioso, sem acesso para mais ninguém, totalmente mergulhada em mim.
Quando deu 01:30 da manhã, a a minha bolsa rompeu de fato, no toque 8cm, bebe em -2, vamos lá, agora vai nascer.
E aí, eu saí da partolândia, desse universo doloroso e prazeroso na medida certa, e fui pra algum lugar negro, eu acordei de um sonho e entrei num pesadelo, a dor era insuportável, não era a dor do parto que havia conhecido, era uma dor que me deixou maluca, era uma dor que me angustiava, a sensação era de que eu abriria ao meio, e meu coração gritava pra eu pedir ajuda, pra eu sair dali. Tentava voltar pra minha hipnose, mas eu nao conseguia, era como se eu precisasse estar acordada. Mas eu segurei, segurei, o máximo que pude. Eu queria MUITO parir de novo no calor do meu lar, eu estava disposta a aguentar aquela dor. Mas ela nao tinha intervalo, doía o tempo todo, eu sentia vontade de empurrar, mas nao era a sensação de expulsivo. Eu sentia vontade de correr, de gritar, de sair de mim, de tirar meu bebê de mim. Até que em uma contração extremamente forte, meu coração conversou com Henrique, e me veio a certeza de que  não estavamos numa experiencia normal, que precisavamos de ajuda, e eu precisava sair dali. Eu senti a presença do Henrique muito forte, e uma angustia muito grande tomou conta de mim. Neste momento, pela primeira vez vi que a Flavia Junqueira estava ali diante de mim, eu gritei pra ela: Ele está preso, meu filho está preso, eu sinto ele preso. Nao era uma sensação, era uma constatação, eu senti sua cabeça, eu vi sua cabeça, eu não tinha duvidas.

" Disseste que se tua voz tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira"
(Legião Urbana)


Gritei que queria ir embora, que queria analgesia, isso era 04:00 da manha, eu estava com aquela dor descontrolada há duas horas e meia, não aguentava mais.
A parteira pediu para fazer um exame de toque, quem sabe estava perto de nascer. Ao toque 9cm, bebê parado em -2. Nisso a Rafa pediu pra eu sentar na banqueta pra ver se ajudava, saí da banheira e fui para o chuveiro, tentei ir para o chuveiro, mas a dor era imensa, meu pubis doía demais, eu nao conseguia andar. Decidi ir pro hospital. Pedi para ligarem para o hospital e avisar ao anestesista que eu estava chegando. E estava indo nua para o hospital, quando alguem passou um vestido pela minha cabeça, nem sei quem foi (obrigada). Eu moro no terceiro andar, em um prédio sem elevador, respirei fundo e desci as escadas com apoio da minha amiga obstetra anja Flávia Junqueira. Entrei no carro, e em 3 minutos estava no hospital, as contrações nao davam tregua. Cheguei no hospital, e depois fiquei sabendo que meus gritos eram ouvidos no estacionamento.
As 4:10 fiz analgesia, e eu consegui respirar, consegui ver minha equipe toda ali ao meu lado, pessoas que ate entao eu nao havia visto, eu estava em outra dimensão. As amigas fotógrafas (Alexandra e Dani Grigoletto), minhas obstetras lindas Flávia Maciel e Flávia Junqueira. As parteiras Rafa e Vane e minha doula Cláudia. 

"When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No I won't be afraid, no I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me" (Seal)
Eu me sentia de volta, mas meu pubis ainda doía, a analgesia não conseguiu aliviar 100% mas eu já estava satisfeita.
As 06:00 da manhã as dores estavam querendo voltar com força, As Flávias tentaram fazer uma manobra interna e externa. Mas Henrique permaneceu parado em -2, colo em 9cm pq a sua cabeça nao chegava nele para finalizar a dilatação. Perguntei:- Ele vai nascer? O olhar triste de todos na sala respondeu a minha pergunta em silêncio. Estavamos sem evoluçao na altura há muitas e muitas horas, quase 10 horas sem ele sair do plano -2. Estacionado.
Chorei, chorei de alivio, chorei de medo, chorei de frustração. Um longo filme do meu parto anterior passou pela minha cabeça, tive raiva e pena de mim. Mas exausta demais vesti a minha força e minha coragem e adentrei ao centro cirúrgico. A dor no pubis já estava forte demais.
Mas aquele centro cirurgico não estava frio, pessoas que me amam, que acreditam e comungam comigo estavam lá, ansiosas pela chegada do Henrique.

chorei nesse abraço


Deitei na maca e quando começou a tocar Can´t Help Falling  in Love (Elvis Presley), estava no meu plano de parto, tocar esta musica quando Henrique chegasse. Os campos foram abaixados e eu pude ver sua cabeça saindo de dentro de mim, ele não brotou de outro lugar, ele não apareceu do nada, ele saiu de mim. E eu só sabia dizer que ele era lindo, que parecia comigo, me vi nele, me vi bebê. E sua cabeça era enorme, a razão de toda essa bagunça, logo vi seu corpo gorducho sair de mim. Foi passado por debaixo dos campos, direto para os meus braços calorosos, precisou de uma ajudinha da Tia Paula (pediatra), mas em seguida chorou forte em meus bracos e grudou no peito, mamou forte, rosado, gorducho, imenso, do tamanho do meu abraço. E meu mundo caiu mais uma vez. 
A sensação de receber um filho é maravilhosa, independente da via de parto. Eu tive a mesma emoção e alegria nos dois nascimentos. Sentir o corpo quente e escorregadio faz tudo valer a pena.
Sim, é possivel amar dois filhos na mesma medida, eu já era capaz de matar e morrer pelo meu mais novo amor. Marido curtiu, nos apaixonamos por ele em uma sala de centro cirurgico, diferente da piscina que foi o parto anterior, mas não de menor significado e intensidade. Papai cortou o cordão, e meu plano de parto foi seguido a risca. 


                  Wise men say, only fools rush in
But I can't help, falling in love with you
Shall I stay? Would it be a sin
If I can't help, falling in love with you? (Elvis Presley)



Henrique nasceu as 06:12 de uma quinta feira, de um parto que começou com pródromos na sexta-feira, quase uma semana de preparação, uma jornada longa e que precisamos vivenciar.
Pesou 3965g e 51cm, 37cm de perimetro cefalico, 36cm de perimetro toracico. Uma cabeça redondinha, de quem nem tentou entrar na pelve. Um Desproporção Céfalo Pélvica clássica, caímos numa baixa porcentagem, mas a obstetricia é cheia de pequenas surpresas.

Fomos para Recuperação pós Anestesica, namoramos mais um pouco, Henrique continuou grudado no peito por muitas e muitas horas. Não sofreu nenhuma intervenção sequer. Ficou comigo o tempo todo em contato pele a pele, me olhando nos olhos, como sei tentasse entender que caminhada longa haviamos percorrido.

gorducho
Fácil ir para um cesárea quando se deseja um parto normal? De forma alguma. Eu sempre fui uma parteira muito empática e sempre soube que era um processo longo e difícil, mas eu só tinha noçao, só fui saber a real intensidade desse sentimento quando me vi lá dentro, encarando de frente e de peito aberto. Sem nem tentar entender, me deixei levar pelos sentimentos, e tive dias muito difíceis, de luto pela experiência que sonhei durante anos, e a vivi de uma forma diferente, num parto que nunca sonhei. Sentia um buraco imenso no peito, uma lacuna, como se houvesse sido marcada por algo inacabado. Mas o aprendizado foi soberano, tanto do ponto de vista pessoal e profissional. Deixo aqui meu abraço apertado a todas as mulheres que passaram por este sentimento, para aquelas que ainda passarão, ou estão passando, se deem um tempo, ele cura, faz as conexões, fale a respeito, chore, coloque pra fora, sua dor é legitima, mesmo que vc tenha um bebe saudável em suas mãos.
Hoje quase nove meses depois, consigo ver com beleza e tamanha riqueza essa experiência intensa e de grande superação que foi a chegada do Henrique. Esta é a nossa história, me orgulho imensamente dela.

Eu queria agradecer imensamente essa equipe maravilhosa que me acompanhou. Detalhe que vi praticamente,  minha equipe inteira de parto parir, com exceção da Rafa que vou ver agora. A energia estava demais, mulheres amparando uma amiga parindo. 














Meu muito obrigada ao meu maridao Gustavao, que foi maravilhoso como em tudo na minha vida. Presente, segurou as pontas, sonhou comigo, chorou comigo, e cresceu comigo. Obrigada
Meu filho Nico, que sua presença me deu forças para perseverar na chegada do seu tao esperado irmão.
As parteiras e obstetras Flávia Maciel, Flávia Junqueira, Rafa e Vanessa, vocês foram perfeitas, viverão para sempre em meu coração, Fazem parte da historia da minha família, lembrança eterna. Muito obrigada a cada uma de voces, pelo carinho, pela amizade e profissionalismo, na gestação, no parto e no pós parto.
A minha doula Claudia, muito obrigada por cuidar de mim na gestação, e muito obrigada por ser calmaria onde eu era tufão.
As minhas fotografas e video makers, obrigada por se fazerem invisiveis e eternizarem este momento. Muito obrigada
E a pediatra que recebeu e respeitou nosso principe, Paula Cuginotti, muito obrigada pelo carinho e cuidado.
A toda equipe do Hospital Electro Bonini, muito obrigada pelo carinho, pela privacidade e respeito. 

 
























sábado, 18 de outubro de 2014

Adeus fraldas

Há algum tempo eu descobri que a maternidade é a melhor forma de pagar a língua. Durante muito tempo eu dizia, e ainda posso ouvir os nítidos ecos de minha voz: -" Filho meu desfralda com 1 ano de idade, nada de menino ficar andando feito um pato com fraldão". Nem preciso dizer que escrevi isso em uma cartinha, joguei para o alto e cai em cheio da minha testa.
Nico fez um ano e claro, não estava nem passando pela nossa cabeça um desfralde, como desfraldar um menino que não fala? Nico fez dois anos, como desfraldar um menino que não sabe o que fala? Nico estava prestes a fazer três anos, como desfraldar um menino que morre de medo do penico?
Claro que ser mãe é viver em uma cobrança eterna, quando Nico ultrapassou a casinha dos dois anos eu comecei a me questionar, e foram várias tentativas falhas para tirar essa fralda. Mas todos os sinais estavam diante de mim, o menino não estava pronto, mas em alguns momentos EU queria que estivesse.
Nico não sentava de forma alguma no penico, no redutor de assento, no vaso, sequer topava fazer xixi no mato, se escondia quando queria fazer cocô e nunca se incomodava em ficar com a fralda suja. Não demonstrava nenhum sinal de que estaria pronto para o desfralde, se fizesse xixi no chão, continuava brincando com normalidade.  Até que eu decidi jogar a toalha e seguir o fluxo do rio, deixei as cobranças alheias, inclusive as minhas de lado e segui em frente.
Se por um lado eu me preocupava pelo fato do Nico estar chegando aos 3 anos usando fralda, por outro eu também me preocupava com os fatores negativos do desfralde em crianças que não estejam preparadas para ele, como intestino preso e/ou encoprese. O controle dos esfíncteres não tem nuances somente fisiológicas, mas existem diversos fatores emocionais atuando em conjunto e para que o desfralde seja de fato pacifico todos estes fatores precisam estar em completa harmonia.
 
Em busca de algumas respostas para acalmar o coração sempre preocupado de mãe, encontrei uma fala de Fraçoise Dolto "a criança se desfralda sozinha".
A partir dali a conversa foi outra, deixei o penico no banheiro dele e sempre oferecia "-Nico vamos fazer o xixi no penico?" "está com vontade de fazer xixi, podemos usar o penico", a resposta era sempre negativa e eu agia com naturalidade. Até que aos poucos ele foi vagarosamente me mostrando que estava se preparando, antes não demostrava sequer vontade de fazer xixi, de repente quando estava peladinho e vinha a vontade de fazer xixi ou coco pedia para colocar a fralda, eu sempre oferecia o penico, mas ele sempre queria a fralda e tudo bem, vamos de fralda. " Fez xixi no chão? Tudo bem filho, acontece". Até que um dia a mágica se fez:
Nico: - Mamãe quero por a fraldinha
Eu: - Xixi ou cocô?
Nico: - Cocô
Eu: Você não quer fazer no penico? (Mostrando o penico)
Nico: Sim
 
Batemos palma, sorrimos, chorei, demos tchauzinho para o cocô, foi uma verdadeira festa.
E dali em diante o menino percebeu que podia, que havia crescido, que não havia motivo para ter medo, e que fazer no penico era muito mais legal.
Depois deste episódio o desfralde foi muito rápido, em poucos dias não pedia
 mais para usar fraldas, nem a noite e nem de dia. Desfraldou por que percebeu que era hora, a sua hora!
O desfralde sadio só acontece quando a criança tem condições físicas e emocionais para controlar o xixi e o cocô.
 
As consequências de um desfralde precoce são imprevisíveis, e os pais se cobram e são cobrados a efetuarem o desfralde cada vez mais cedo, como se uma competição imaginaria existisse, mas nunca devemos esquecer que a maior cobrança cai nos ombros da criança. Cada pessoa tem seu próprio tempo para crescer e se desenvolver, assim como cada bebê tem seu próprio tempo para nascer. Observar, auxiliar, acompanhar é muito mais sadio do que comandar e impor. Aceitar o tempo é a maior dadiva, é um segredo para todos os desafios da vida. Com sabedoria ouvimos o som do tempo e passamos a compreender o seus sinais.
 
Um abraço
 
Thaiane




quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Nana Nenê, e a mamãe vai pegar sim!

Essa semana está rolando nas mídias sociais uma imagem que supostamente foi publicada pela apresentadora e modelo Ana Hickman que está toda linda grávida do seu primogenito. A imagem era a capa do livro Nana Nenê o qual a apresentadora estaria lendo e gostando.
Muitas mães perguntando sobre o método e aqui eu faço uma breve abertura sobre o assunto.



Sou mãe, sou profissional, trabalho muito, cuido da casa, do marido, do filho e de muitos trabalhos, estudo e sim, eu me preocupei muito no tanto que minha vida mudaria após a chegada do Nico. Como seriam minhas noites de sono? Como ser uma boa mãe e ensinar meu filho a ser uma boa pessoa? E claro que diante dessas inquietações de um coração instintivo ainda adormecido, encontrei uma chuva de livros e textos de pessoas vendendo a solução dos meus problemas, e acalmando o coração de uma mãe que só quer e deseja o melhor para o seu filho. Foi assim que eu conheci o método nana nenê.
E olhando como ele era popularmente aceito e praticado na grande maioria dos lares, embora poucas pessoas saibam o nome desse método, o deixar chorar pra dormir é um conselho muito comum, oferecido a jovens mães que estão adentrando ao mundo da maternagem.
Por um tempo me deixei influenciar por esse livro, até que um dia eu ouvi: joga fora esse monte de livro e aprenda a ler o seu coração de mãe. E eu não só li como ouvi, um coração batendo a mil, e implorando para que eu pudesse sentir e me permitir entrar num mundo de fusão com uma criatura que crescia dentro de mim, e que acima de qualquer bem material, ele precisaria do meu calor, do meu abraço, do meu cheiro e do meu leite para crescer, e essa fusao não deveria acontecer somente em horário comercial. Depois dessa explosão instintiva dentro de mim, esse método perdeu todo o sentindo, e sim passou a ser cruel.

Neste berço, neste berço, dorme um anjo
Que se chama, que se chama, solidão.

Esse método que foi disseminado pelo Eduard Estivill e no mundo ocidental ganhou muitos adeptos, principalmente de pais, educadores e pediatras, pouco se preocupa com a individualidade da criança e mais uma vez propaga a separação de pais e filhos em idade precoce.


Eu sempre digo: duvide sempre de livros que tratam as crianças como um produto adestrável. Como uma receita de bolo e a promessa de noites de sono e saídas em restaurantes com o máximo de conforto e tranquilidade.
O livro em questão aborda o condicionamento da criança para dormir a noite toda. Os pai
s devem levar a criança ao berço, explicar amorosamente (como se ela tivesse condições entender as palavras tendo meses de idade) que o papai e a mãmae gostam muito dela, e que estão a ensinar a dormir sozinha. Vai ficar aqui no quarto com o bonequinho. 
E daí pra frente NÃO pode ter contato fisico com a criança, a menos que ela vomite ( o que é normal com esse método) ou esteja com a fralda suja, enfim, ao menos que seja necessário diante da ótica fisica. A criança pode chorar por mais de duas horas, mas os pais não devem atender ao seu choro a pegando no colo, até que por milagre a criança passa a dormir depois de alguns dias. Milagre para os pais, resignação para o filho, que nao aprendeu a dormir, mas sim aprendeu que não adianta chorar, pois seu choro não será atendido.

Não preciso nem comentar que esse método não leva sequer em consideração que as crianças passam por estirões de crescimento, que mudam seu padrão de sono, causam irritação e fazem com que a criança demande mais atenção de seus pais por um periodo relativamente curto de tempo. Ou seja esse método terá de ser aplicado em várias ocasiões.
Uma viagem que tire a criança da rotina, uma doença, uma perda, qualquer coisa, lá se inicia o método novamente


Se Charles Darwin estivesse vivo quando esse método foi disseminado,provavelmente teria tido um AVC ao ver anos e anos de evolução indo para o mundo do esquecimento e do antiquado. O bebê chora simplesmente porque ele precisa chorar. Ele precisa chorar porque ele carrega dentro de si o legado da continuidade de sua comunidade, ele carrega o legado da sobrevivência de sua espécie. E para sobreviver, uma vez que nasce tão imaturo, ele precisa de cuidado continuo. Há milhares de anos os bebês que não chorassem seriam devorados por predadores, torrariam ao sol, seriam picados por formigas e ficariam seriamente machucados e até mesmo mortos. Sua única arma contra as adversidades da vida era o choro. Por outro lado, a mãe que não se sentisse incomodada/tentada a atender prontamente seu choro, dificilmente passaria seus genes para frente. Durante milhares de anos a natureza se propos a aperfeiçoar os mecanismos de sobrevivência, fazendo com que os bebês utilizassem sua arma mais poderosa, o choro, para estar sempre perto de suas mães, e que suas mães não resistissem a essa arma, ao ponto de ser insuportavel ouvir a cria chorando e nao ser atendida.
Quando alguém diz que se deve deixar o bebê chorar, está sambando e cuspindo na evolução de sua própria espécie.

Em nosso ocidente a puericultura prega cada vez mais precocemente a separaçao emocional e fisica de mães e bebês. Olhem como nossos filhos sao recebidos nas maternidades? Meros produtos institucionais, que ficam em choro conjunto em berçarios, cada bebê com sua própria solidão, e suas mães sedadas se recuperando do nascimento que muitas vezes nem chegaram a ver e a viver. As recomendações de profissionais e familiares é para que o bebê permaneça a maior parte do tempo em carrinho, berço, moisés, e qualquer outro lugar menos no colo para não acostumar demasiadamente ao lugar em que ficou constantemente por 9 meses. 


Inclusive nos países em que mais se aplica esse método, menos as crianças são amamentadas, e o número de crianças que utilizam chupetas é bem maior. O autor esqueceu deste detalhe, as crianças mamam, e mamam de madrugada também, e é impossivel amamentar ao seio sem pegar no colo. E esqueceu que a prolactina, hormônio responsavel pela produçao de leite, encontra-se em alta dosagem durante a madrugada, e por isso é importante amamentar em livre demanda, inclusive de madrugada.

Se eu pudesse dar um conselho a Ana Hickman eu diria: esse livro é bom para peso de porta e alimento de fogueira.

Se eu pudesse dar um conselho a todas as mães eu diria: Joguem fora os livros e leiam seus próprios corações instintivos de mães. Se mesmo assim precisarem de um auxilio nesse longo caminho da maternagem, procurem por livros que ajudem a entender quem é este pequeno ser que se sente seguro em seu colo, e não aqueles que te oferecem uma receita para a solução dos seus medos e inquietações!

"E dentro dela existe uma fera, que nasceu junto de sua cria, que foi descoberta no exato momento em que ouviu o primeiro choro, que não adormecerá jamais, desde que descoberta sua existência"

Beijo em todos!

Thaiane









segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Fraldas de Pano Modernas Mamãe Sunny

É com muito orgulho e alegria que anuncio as Fraldas de Pano Modernas da Mamãe Sunny, produzidas no Brasil, com materias importados de altissima qualidade. São fraldas confeccionadas em pul em sua camada exterior que é impermeavel, e respiravel e não esquenta, e internamente apresentam camada sempre seca em microfleece, suedine ou micro pique, que são absorventes e deixam o bebê sempre sequinho.  Cada fralda acompanha dois absorventes de microfibra!

Para saber mais sobre a fralda consulta esta postagem minha aqui no blog, com dicas de lavagens e materiais!

Quem tiver interesse em adquirir por favor envie mensagem para tsguerra@gmail.com
Em breve terá um site prontinho!

Abraços

Thaiane














sábado, 19 de outubro de 2013

Sling - Função e posições básicas - G&M na TV#2




Foi com muito prazer que dei esta entrevista a lindona Flávia Maciel moderadora do Grupo virtual Gravidinhas e Mãezinhas, a entevista foi muito boa e não deixem de ver as diferentes amarrações que eu ensino no vídeo.
Quem quiser entrar em contato para tirar dúvidas e conversar a respeito, coloco-me a disposição
Beijo grande
Thaiane

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Independência de que?

Acompanhando o tema do post anterior (aqui) há um assunto que me faz perder alguns momentos do dia, e como sou coruja, alguns muitos momentos da noite, rs.
O tema de hoje é a busca enfurecida da puericultura ocidental pela tão sonhada independência das crianças.

Não é loucura comparar que para nossa sociedade o que é bom dura pouco, não dói, não cansa e não exige muito de nós. Sempre há um caminho do meio. Por conseguinte parto bom é parto rápido e indolor, se o parto levou 30 horas logicamente foi uma tragédia. A criação dos filhos segue a mesma linha, tanto é que podemos ver diariamente a abundância de softwares, produtos, e ítens adultos cada vez mais adulterados em prol de alcançar o mundo infantil. Há inclusive produtos que em nossa cabeça fazem parte da infância, como os doces, quanto mais cores e brilhos e açucar mais propício para a infância, será mesmo?

Bom, voltando ao assunto, hoje quero compartilhar meus devaneios quanto a tal da independência.
Seguindo a linha de raciocínio que eu coloquei acima sobre o que é bom dura pouco e não dói, temos que a qualidade da maternagem está diretamente relacionada a independência dos filhos. Como mãe posso falar, nós comparamos sim nossos filhos com os filhos dos outros, alguns comparam menos e outros mais, alguns sabem que comparar é algo totalmente desnecessário e conseguem ter controle dos pensamentos e sentimentos, outros não, e daí nasce a competição do mundo maternal. Competição essa que leva nada a lugar algum. 
Vejam a cena:
Duas mães se encontram no consultório pediatrico.
Uma mãe sorri para a outra, e juntas sorriem para as crianças
Mãe 1: - Que gracinha sua filha, quanto tempo ela tem?
Mãe 2: - Ah obrigada. Fala obrigada pra tia filha. Ela tem dois anos e meio.
Mãe 1: - Ah que legal, a mesma idade do meu filho. E aí, ela dorme a noite toda?
Mãe 2: - Nossa, acredita que ela sempre dormiu a noite toda?
Mãe 1 se sente uma má mãe pq seu filho acorda duas vezes para mamar.
Mãe 1: - Nossa meu filho tá dificil pra comer.
Mãe 2: - Nossa menina, ela parece o menino do comercial do brocólis? Eu coloco o prato na mesa e ela come sozinha.
Mãe 1 se sente um lixo de mãe
Mãe 2: - Com quanto tempo você desfraldou seu menino
Mãe 1: - Ele usa fralda ainda. (quando passa o bonde para as montanhas?)
Mãe 2 olha para a Mãe 1, muda o assunto com aquela cara de pena.
Mãe 1 volta para a casa se sentindo uma péssima mãe. Como dependente é seu filho.

Quem nunca passou por isso? Quem nunca foi mãe 1? Quem nunca foi Mãe 2?
E aí eu pergunto em algum ponto se mostrou detalhes da qualidade da maternagem? Quem é mais independente? Vamos para com esses assunto de qualidade de maternagem pq isso não é mensuravel.

Colquei a sitação acima, porque vejo muito a procura pela independência, as mães procuram sinais sólidos de sua influência positiva na vida dos filhos. Acredito que por ser os sentimentos subjetivos e pouco palpaveis a saúde emocional seja algo um pouco distante para as mães que procuram resultados concretos.
A criança independente dorme no berço? A criança independente come sozinha? A criança independente nao adormece no peito? A criança independente não faz birra? A criança independente senta sozinha e fica quieta no restaurante? A criança independente se higieniza sozinha?
E aí a pergunta que não quer calar, estamos falando de qual independência? Ou melhor a independência de quem?
  Sim, a criança pode ter condições de auto cuidado, e ficar sozinha, e dormir sozinha e ser uma criança independente. Mas a criança também pode ter suas necessidades de autocuidado, usar fralda, e precisar da presença de sua mãe ativamente e ser sim uma criança independente, apenas ainda não está no seu momento de realizar tarefas sozinhas, ou ainda não ter maturidade para tal. Algumas crianças alcançarão maturidade precocemente outras demorarão mais, mas acho que pouco falamos da independência emocional.
Nos prendemos demais analisando, e querendo fazer nossos filhos serem precoces, lutando contra inimigos imaginários e esquecemos que muito mais importante do que um desfralde as pressas com 1 ano de vida, é uma boa relação afetiva que conduzirá a um controle dos esfincteres mais eficaz e um desfralde a seu tempo. Mais importante é sanar as necessidades de uma criança, atender seu choro, oferecer-lhe o colo, permitir que explore o mundo, que conheça os ambientes, que conheça as pessoas, e permitir que evolua. Onde está a independência de uma criança que dorme sozinha a noite toda, porém não é permitida a liberdade de exploração?
E será que não estamos olhando num espelho e vendo nós mesmos? Será que a independência não é minha ao procurar loucamente que meu filho coma, durma, se higienize e se comporte sozinho? Será que os pais inconscientemente não procuram exageradamente pela própria independência?

E eu te digo, um dia seu filho irá sair das fraldas, irá comer sozinho, irá dormir sem o calor do peito ou sem ser embalado, irá ficar sozinho e até se comportar no restaurante. Não conheço nenhum adulto que receba comida na boca, estando em boas condições de saúde, então, todos os adultos são independentes? Não, não. Conheço adultos que moram sozinhos, que tem ótimos empregos com altos cargos, uma vida próspera e são dependentes, dependem de suas muletas emocionais. Dependem da opinião de outros, dos sentimentos de seus conjuges, do controle dos seus filhos, das amarras sociais, de um relação pouco afetiva com seus pais, etc.
Então vamos pensar na independência um pouco além do desfralde precoce? Sim, sei que esse é um dos primeiros passos na vida de um adulto, mas então vamos pensar na qualidade dessa independência, vamos pensar que para ser independente é preciso ter uma boa dependência primeiro. E não sei, não entendo o motivo de essa ser a maior preocupação das mães, pois com amor e afeto a independência virá, e virá tão rápido que mal poderemos acompanhar,

num piscar de olhos saem de nossas barrigas e no outros levantam voo, e a nós só nos resta acreditar que fizemos o melhor para este passarinho sempre a sua casa voltar.

Um abraço

Thaiane

 


sábado, 7 de setembro de 2013

A postura de chefe na criação dos filhos




Esses dias passando por uma grande de livraria me deparei com diversos livros que prometiam noites maravilhosas de sono, filhos bem educados, crianças que não fazem birras e mais uma enorme quantidade de promessas que deixam de lado toda a fisiologia do desenvolvimento normal e saudável de toda criança.
Voltei para a casa muito, muito pensativa com essas questões, com essas respostas milagrosas e a única coisa que nao sai de minha cabeça: estamos em busca do bebê ideal?

Atualmente eu faço parte de aproximadamente 40 grupos de discussao sobre maternidade nas redes sociais, grupos de todos os tipos, que discutem amenidades maternas, ecléticos, que fazem meus olhos arderem, que discutem valores, métodos, especificos, fechados, abertos, gerais, etc. Alguns participo ativamente, outros não, alguns leio bastante, alguns sempre me excluo e sempre me incluem, alguns aprendo muito e etc. E em todos os grupos de mãe o assunto birra, falta de limites, palmadas, etc, vai surgir em algum momento, assim como essas afirmativas, por sinal muito defendidas pro profissionais e opinólogos de plantão: 

" Diga NÃO bem firme e séria quando seu bebê estiver fazendo algo que não pode"

" Mostre quem manda na casa"

" A criança TEM que respeitar a hierarquia"

" As vezes falar somente não adianta, então vale umas palmadas. Mas espancar não"

Crítica como sempre fui e sou, sempre paro para pensar nisso tudo. Durante muito tempo eu acreditei nessas afirmativas, durante outros tempos eu me incomodei com isso, e hoje em outros tempos paro para refletir.
E a pergunta vem à ponta da lingua: Estamos falando NÃO demais para nossos filhos? Estamos falando NÃO demais para a vida?
O não funciona muito pouco diante das crianças e é pouco eficaz, mas antes que digam que estou tentando impor a verdadeira teoria do caos, vou abordar um pouco as questões baseadas na administração.

Eu comecei a estudar administração desde os tempos do ensino médio nas aulas de geografia e história, e mais tarde tive que aprofundar os estudos na faculdade, porém só fui dar o devido valor a estas teorias quando me vi perdida e enlouquecida no ambiente de trabalho, onde as relações pessoais e profissionais eram decadentes, e a estrutura organizacional totalmente hierarquizada e pouco funcionante. E não preciso mencionar que este ambiente totalmente desorganizado e prejudicial me levou a inúmeras sessões de terapia e a vasta procura por literaturas. 
Trabalhar em hospitais é uma verdadeira prova de vida. Onde as relações tendem a ser hierarquizadas e as teorias de equipe multiprofissional funcionam muito bem no papel.

Quem já teve um CHEFE, no sentido próprio da palavra sabe o quão pode se tornar desafiante sair de casa e ir trabalhar. A figura do chefe é tida como uma figura de autoridade, já a do líder é tida como uma figura de orientação e motivação. 
Nas organizações empresariais o chefe é tido como aquele que usa de autoritarismo, coloca regras, tarefas e imposições, e seus subordinados são obrigados a seguirem suas ordens que nem sempre respeitam as necessidades especificas de cada um, demonstram inflexibilidade e pouca abertura ao dialogo.
Já o líder é tido como um orientador, motivador, que consegue compreender seu ambiente de trabalho e motiva as pessoas a atuarem de forma harmonica. As relaçoes são horizontais e se mostra aberto ao dialogo e sua postura é mais voltada a participação de todos.
A postura de chefia, tem proteção de sua hierarquia, onde pode agir com liberdade a sua própria maneira, não necessitando servir de exemplo, pois a ordem é: "faça o que eu mando". Nessas empresas o ambiente é tomado por descontentamento, desunião, falta de motivação e abandono de cargo, uma vez que poucos conseguem se manter em um ambiente negativo por muito tempo o que aumenta a rotatividade e diminui o bom funcionamento da empresa.
A postura de liderança já se reflete no exemplo do líder, o que demanda tempo e paciencia e habilidades pessoais para contornar situações desagradaveis e desafiadoras do ambiente de trabalho. Não conta com a proteção hierarquica, pois normalmente a relação horizontal é mais valorizada, portanto está mais exposto a críticas e também a elogios e a soluções compartilhadas de problemas. O ambiente de trabalho costuma ser mais harmonico, motivador e menos estressante, e o índice de absenteismo é menor.

Mas o que tem haver as relações do ambiente de trabalho com a criança de filhos?? Tem tudo haver!
Se o funcionário motivado trabalha melhor, uma criança motivada também ira se desenvolver melhor.
É muito mais fácil sentar na cadeira e dar ordens, ser impaciente por estar preocupado com os ganhos, despesas e trabalho a ser feito e todas as preocupaçoes de um chefe, sem levar em conta os meios, só pensando no fim, e sem ter uma visão muito clara do futuro, onde a preocupação maior é a imediata, é a tarefa. Assumir a posição de liderança exige tempo, paciência, perseverança e jogo de cintura. Para resolver problemas muitas vezes necessitará um grande mergulho em si mesmo e o reconhecimento de estruturas emocionais dolorosas, como motivar se está desmotivado?

Assim fazemos diariamente com nossos filhos. Temos inúmeros desafios em nosso cotidiano, chegamos em casa cansados pelo trabalho, e o jantar precisa ser feito, a casa precisa de cuidados, e ainda precisamos dar banho, ajudar na liçao de casa, botar para dormir, etc, etc, etc.
Daí acabamos não dando atenção devida, e nossos filhos nos respondem a altura, com impaciencia, com a birra. A birra nada mais do que a demonstração de um descontentamento, que nem sempre é devido a taça de cristal proibida, na grande maioria das vezes é pela atenção não recebida, e a taça de cristal é somente a materialização desse desejo frustrado.
É mais fácil dizer:
- Fulano, NÃO pegue a taça de cristal. Já falei pra vc que não poder mexer aqui.
E a criança responde pegando a taça olhando diretamente nos olhos da mãe como se a desafiasse, ou se coloca no chão em choro sentido.
Não seria melhor dizer:
- Fulano, eu sei que vc quer atenção e nesse momento estou tão cansada e não estou dando o que vc merece. Na sua idade eu também gostava de brincar com coisas que quebram, mas se a taça quebrar onde iremos tomar o suco de laranja gostoso? Mamãe tem que fazer o jantar vc não quer vir brincar na cozinha com os potinhos?
Cadê o NÃO??? Cada vez mais me convenço que falamos NÃO demais, que limitamos demais, que damos atenção de menos e não lideramos nossa casa, nós a chefiamos.
Nossos filhos são criados em um hierarquia verticalizada onde não é permitido questionamentos, onde não é permitido que se expressem, que chorem, onde precisam andar em cascas de ovos, onde devem muito e podem pouco. Queremos filhos educados? Que se sentem na mesa de um restaurante e se comporte? Queremos filhos perfeitos? Mas somos perfeitos? Somos pais perfeitos? 

Precisamos pensar em relações saudaveis e não em quem manda na casa, se oferecermos respeito e amor aos nossos filhos, eles nos retornarão respeito e amor. Colocaremos em nossa casa a harmonia, o dialogo. Precisamos de tempo, precisamos de jogo de cintura e sabedoria. Criar filhos é um grande mergulho interior, precisamos trabalhar sujeiras que teimamos em jogar debaixo do tapete, e isso não é facil, e por vezes é doloroso, porém é necessário.

Espero dizer menos NÃO ao meu filho, e dizer mais SIM à vida. Não preciso ensinar meu filho quem manda na casa, eu preciso amá-lo e motivá-lo a ser uma boa pessoa, e isso só tem um caminho, o exemplo.

Beijo em todos

Thaiane!