Há algum tempo eu descobri que a maternidade é a melhor forma de pagar a língua. Durante muito tempo eu dizia, e ainda posso ouvir os nítidos ecos de minha voz: -" Filho meu desfralda com 1 ano de idade, nada de menino ficar andando feito um pato com fraldão". Nem preciso dizer que escrevi isso em uma cartinha, joguei para o alto e cai em cheio da minha testa.
Nico fez um ano e claro, não estava nem passando pela nossa cabeça um desfralde, como desfraldar um menino que não fala? Nico fez dois anos, como desfraldar um menino que não sabe o que fala? Nico estava prestes a fazer três anos, como desfraldar um menino que morre de medo do penico?
Claro que ser mãe é viver em uma cobrança eterna, quando Nico ultrapassou a casinha dos dois anos eu comecei a me questionar, e foram várias tentativas falhas para tirar essa fralda. Mas todos os sinais estavam diante de mim, o menino não estava pronto, mas em alguns momentos EU queria que estivesse.

Se por um lado eu me preocupava pelo fato do Nico estar chegando aos 3 anos usando fralda, por outro eu também me preocupava com os fatores negativos do desfralde em crianças que não estejam preparadas para ele, como intestino preso e/ou encoprese. O controle dos esfíncteres não tem nuances somente fisiológicas, mas existem diversos fatores emocionais atuando em conjunto e para que o desfralde seja de fato pacifico todos estes fatores precisam estar em completa harmonia.
Em busca de algumas respostas para acalmar o coração sempre preocupado de mãe, encontrei uma fala de Fraçoise Dolto "a criança se desfralda sozinha".
A partir dali a conversa foi outra, deixei o penico no banheiro dele e sempre oferecia "-Nico vamos fazer o xixi no penico?" "está com vontade de fazer xixi, podemos usar o penico", a resposta era sempre negativa e eu agia com naturalidade. Até que aos poucos ele foi vagarosamente me mostrando que estava se preparando, antes não demostrava sequer vontade de fazer xixi, de repente quando estava peladinho e vinha a vontade de fazer xixi ou coco pedia para colocar a fralda, eu sempre oferecia o penico, mas ele sempre queria a fralda e tudo bem, vamos de fralda. " Fez xixi no chão? Tudo bem filho, acontece". Até que um dia a mágica se fez:
Nico: - Mamãe quero por a fraldinha
Eu: - Xixi ou cocô?
Nico: - Cocô
Eu: Você não quer fazer no penico? (Mostrando o penico)
Nico: Sim
Batemos palma, sorrimos, chorei, demos tchauzinho para o cocô, foi uma verdadeira festa.
E dali em diante o menino percebeu que podia, que havia crescido, que não havia motivo para ter medo, e que fazer no penico era muito mais legal.
Depois deste episódio o desfralde foi muito rápido, em poucos dias não pedia
mais para usar fraldas, nem a noite e nem de dia. Desfraldou por que percebeu que era hora, a sua hora!
O desfralde sadio só acontece quando a criança tem condições físicas e emocionais para controlar o xixi e o cocô.
As consequências de um desfralde precoce são imprevisíveis, e os pais se cobram e são cobrados a efetuarem o desfralde cada vez mais cedo, como se uma competição imaginaria existisse, mas nunca devemos esquecer que a maior cobrança cai nos ombros da criança. Cada pessoa tem seu próprio tempo para crescer e se desenvolver, assim como cada bebê tem seu próprio tempo para nascer. Observar, auxiliar, acompanhar é muito mais sadio do que comandar e impor. Aceitar o tempo é a maior dadiva, é um segredo para todos os desafios da vida. Com sabedoria ouvimos o som do tempo e passamos a compreender o seus sinais.
Um abraço
Thaiane