quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Nana Nenê, e a mamãe vai pegar sim!

Essa semana está rolando nas mídias sociais uma imagem que supostamente foi publicada pela apresentadora e modelo Ana Hickman que está toda linda grávida do seu primogenito. A imagem era a capa do livro Nana Nenê o qual a apresentadora estaria lendo e gostando.
Muitas mães perguntando sobre o método e aqui eu faço uma breve abertura sobre o assunto.



Sou mãe, sou profissional, trabalho muito, cuido da casa, do marido, do filho e de muitos trabalhos, estudo e sim, eu me preocupei muito no tanto que minha vida mudaria após a chegada do Nico. Como seriam minhas noites de sono? Como ser uma boa mãe e ensinar meu filho a ser uma boa pessoa? E claro que diante dessas inquietações de um coração instintivo ainda adormecido, encontrei uma chuva de livros e textos de pessoas vendendo a solução dos meus problemas, e acalmando o coração de uma mãe que só quer e deseja o melhor para o seu filho. Foi assim que eu conheci o método nana nenê.
E olhando como ele era popularmente aceito e praticado na grande maioria dos lares, embora poucas pessoas saibam o nome desse método, o deixar chorar pra dormir é um conselho muito comum, oferecido a jovens mães que estão adentrando ao mundo da maternagem.
Por um tempo me deixei influenciar por esse livro, até que um dia eu ouvi: joga fora esse monte de livro e aprenda a ler o seu coração de mãe. E eu não só li como ouvi, um coração batendo a mil, e implorando para que eu pudesse sentir e me permitir entrar num mundo de fusão com uma criatura que crescia dentro de mim, e que acima de qualquer bem material, ele precisaria do meu calor, do meu abraço, do meu cheiro e do meu leite para crescer, e essa fusao não deveria acontecer somente em horário comercial. Depois dessa explosão instintiva dentro de mim, esse método perdeu todo o sentindo, e sim passou a ser cruel.

Neste berço, neste berço, dorme um anjo
Que se chama, que se chama, solidão.

Esse método que foi disseminado pelo Eduard Estivill e no mundo ocidental ganhou muitos adeptos, principalmente de pais, educadores e pediatras, pouco se preocupa com a individualidade da criança e mais uma vez propaga a separação de pais e filhos em idade precoce.


Eu sempre digo: duvide sempre de livros que tratam as crianças como um produto adestrável. Como uma receita de bolo e a promessa de noites de sono e saídas em restaurantes com o máximo de conforto e tranquilidade.
O livro em questão aborda o condicionamento da criança para dormir a noite toda. Os pai
s devem levar a criança ao berço, explicar amorosamente (como se ela tivesse condições entender as palavras tendo meses de idade) que o papai e a mãmae gostam muito dela, e que estão a ensinar a dormir sozinha. Vai ficar aqui no quarto com o bonequinho. 
E daí pra frente NÃO pode ter contato fisico com a criança, a menos que ela vomite ( o que é normal com esse método) ou esteja com a fralda suja, enfim, ao menos que seja necessário diante da ótica fisica. A criança pode chorar por mais de duas horas, mas os pais não devem atender ao seu choro a pegando no colo, até que por milagre a criança passa a dormir depois de alguns dias. Milagre para os pais, resignação para o filho, que nao aprendeu a dormir, mas sim aprendeu que não adianta chorar, pois seu choro não será atendido.

Não preciso nem comentar que esse método não leva sequer em consideração que as crianças passam por estirões de crescimento, que mudam seu padrão de sono, causam irritação e fazem com que a criança demande mais atenção de seus pais por um periodo relativamente curto de tempo. Ou seja esse método terá de ser aplicado em várias ocasiões.
Uma viagem que tire a criança da rotina, uma doença, uma perda, qualquer coisa, lá se inicia o método novamente


Se Charles Darwin estivesse vivo quando esse método foi disseminado,provavelmente teria tido um AVC ao ver anos e anos de evolução indo para o mundo do esquecimento e do antiquado. O bebê chora simplesmente porque ele precisa chorar. Ele precisa chorar porque ele carrega dentro de si o legado da continuidade de sua comunidade, ele carrega o legado da sobrevivência de sua espécie. E para sobreviver, uma vez que nasce tão imaturo, ele precisa de cuidado continuo. Há milhares de anos os bebês que não chorassem seriam devorados por predadores, torrariam ao sol, seriam picados por formigas e ficariam seriamente machucados e até mesmo mortos. Sua única arma contra as adversidades da vida era o choro. Por outro lado, a mãe que não se sentisse incomodada/tentada a atender prontamente seu choro, dificilmente passaria seus genes para frente. Durante milhares de anos a natureza se propos a aperfeiçoar os mecanismos de sobrevivência, fazendo com que os bebês utilizassem sua arma mais poderosa, o choro, para estar sempre perto de suas mães, e que suas mães não resistissem a essa arma, ao ponto de ser insuportavel ouvir a cria chorando e nao ser atendida.
Quando alguém diz que se deve deixar o bebê chorar, está sambando e cuspindo na evolução de sua própria espécie.

Em nosso ocidente a puericultura prega cada vez mais precocemente a separaçao emocional e fisica de mães e bebês. Olhem como nossos filhos sao recebidos nas maternidades? Meros produtos institucionais, que ficam em choro conjunto em berçarios, cada bebê com sua própria solidão, e suas mães sedadas se recuperando do nascimento que muitas vezes nem chegaram a ver e a viver. As recomendações de profissionais e familiares é para que o bebê permaneça a maior parte do tempo em carrinho, berço, moisés, e qualquer outro lugar menos no colo para não acostumar demasiadamente ao lugar em que ficou constantemente por 9 meses. 


Inclusive nos países em que mais se aplica esse método, menos as crianças são amamentadas, e o número de crianças que utilizam chupetas é bem maior. O autor esqueceu deste detalhe, as crianças mamam, e mamam de madrugada também, e é impossivel amamentar ao seio sem pegar no colo. E esqueceu que a prolactina, hormônio responsavel pela produçao de leite, encontra-se em alta dosagem durante a madrugada, e por isso é importante amamentar em livre demanda, inclusive de madrugada.

Se eu pudesse dar um conselho a Ana Hickman eu diria: esse livro é bom para peso de porta e alimento de fogueira.

Se eu pudesse dar um conselho a todas as mães eu diria: Joguem fora os livros e leiam seus próprios corações instintivos de mães. Se mesmo assim precisarem de um auxilio nesse longo caminho da maternagem, procurem por livros que ajudem a entender quem é este pequeno ser que se sente seguro em seu colo, e não aqueles que te oferecem uma receita para a solução dos seus medos e inquietações!

"E dentro dela existe uma fera, que nasceu junto de sua cria, que foi descoberta no exato momento em que ouviu o primeiro choro, que não adormecerá jamais, desde que descoberta sua existência"

Beijo em todos!

Thaiane