quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Independência de que?

Acompanhando o tema do post anterior (aqui) há um assunto que me faz perder alguns momentos do dia, e como sou coruja, alguns muitos momentos da noite, rs.
O tema de hoje é a busca enfurecida da puericultura ocidental pela tão sonhada independência das crianças.

Não é loucura comparar que para nossa sociedade o que é bom dura pouco, não dói, não cansa e não exige muito de nós. Sempre há um caminho do meio. Por conseguinte parto bom é parto rápido e indolor, se o parto levou 30 horas logicamente foi uma tragédia. A criação dos filhos segue a mesma linha, tanto é que podemos ver diariamente a abundância de softwares, produtos, e ítens adultos cada vez mais adulterados em prol de alcançar o mundo infantil. Há inclusive produtos que em nossa cabeça fazem parte da infância, como os doces, quanto mais cores e brilhos e açucar mais propício para a infância, será mesmo?

Bom, voltando ao assunto, hoje quero compartilhar meus devaneios quanto a tal da independência.
Seguindo a linha de raciocínio que eu coloquei acima sobre o que é bom dura pouco e não dói, temos que a qualidade da maternagem está diretamente relacionada a independência dos filhos. Como mãe posso falar, nós comparamos sim nossos filhos com os filhos dos outros, alguns comparam menos e outros mais, alguns sabem que comparar é algo totalmente desnecessário e conseguem ter controle dos pensamentos e sentimentos, outros não, e daí nasce a competição do mundo maternal. Competição essa que leva nada a lugar algum. 
Vejam a cena:
Duas mães se encontram no consultório pediatrico.
Uma mãe sorri para a outra, e juntas sorriem para as crianças
Mãe 1: - Que gracinha sua filha, quanto tempo ela tem?
Mãe 2: - Ah obrigada. Fala obrigada pra tia filha. Ela tem dois anos e meio.
Mãe 1: - Ah que legal, a mesma idade do meu filho. E aí, ela dorme a noite toda?
Mãe 2: - Nossa, acredita que ela sempre dormiu a noite toda?
Mãe 1 se sente uma má mãe pq seu filho acorda duas vezes para mamar.
Mãe 1: - Nossa meu filho tá dificil pra comer.
Mãe 2: - Nossa menina, ela parece o menino do comercial do brocólis? Eu coloco o prato na mesa e ela come sozinha.
Mãe 1 se sente um lixo de mãe
Mãe 2: - Com quanto tempo você desfraldou seu menino
Mãe 1: - Ele usa fralda ainda. (quando passa o bonde para as montanhas?)
Mãe 2 olha para a Mãe 1, muda o assunto com aquela cara de pena.
Mãe 1 volta para a casa se sentindo uma péssima mãe. Como dependente é seu filho.

Quem nunca passou por isso? Quem nunca foi mãe 1? Quem nunca foi Mãe 2?
E aí eu pergunto em algum ponto se mostrou detalhes da qualidade da maternagem? Quem é mais independente? Vamos para com esses assunto de qualidade de maternagem pq isso não é mensuravel.

Colquei a sitação acima, porque vejo muito a procura pela independência, as mães procuram sinais sólidos de sua influência positiva na vida dos filhos. Acredito que por ser os sentimentos subjetivos e pouco palpaveis a saúde emocional seja algo um pouco distante para as mães que procuram resultados concretos.
A criança independente dorme no berço? A criança independente come sozinha? A criança independente nao adormece no peito? A criança independente não faz birra? A criança independente senta sozinha e fica quieta no restaurante? A criança independente se higieniza sozinha?
E aí a pergunta que não quer calar, estamos falando de qual independência? Ou melhor a independência de quem?
  Sim, a criança pode ter condições de auto cuidado, e ficar sozinha, e dormir sozinha e ser uma criança independente. Mas a criança também pode ter suas necessidades de autocuidado, usar fralda, e precisar da presença de sua mãe ativamente e ser sim uma criança independente, apenas ainda não está no seu momento de realizar tarefas sozinhas, ou ainda não ter maturidade para tal. Algumas crianças alcançarão maturidade precocemente outras demorarão mais, mas acho que pouco falamos da independência emocional.
Nos prendemos demais analisando, e querendo fazer nossos filhos serem precoces, lutando contra inimigos imaginários e esquecemos que muito mais importante do que um desfralde as pressas com 1 ano de vida, é uma boa relação afetiva que conduzirá a um controle dos esfincteres mais eficaz e um desfralde a seu tempo. Mais importante é sanar as necessidades de uma criança, atender seu choro, oferecer-lhe o colo, permitir que explore o mundo, que conheça os ambientes, que conheça as pessoas, e permitir que evolua. Onde está a independência de uma criança que dorme sozinha a noite toda, porém não é permitida a liberdade de exploração?
E será que não estamos olhando num espelho e vendo nós mesmos? Será que a independência não é minha ao procurar loucamente que meu filho coma, durma, se higienize e se comporte sozinho? Será que os pais inconscientemente não procuram exageradamente pela própria independência?

E eu te digo, um dia seu filho irá sair das fraldas, irá comer sozinho, irá dormir sem o calor do peito ou sem ser embalado, irá ficar sozinho e até se comportar no restaurante. Não conheço nenhum adulto que receba comida na boca, estando em boas condições de saúde, então, todos os adultos são independentes? Não, não. Conheço adultos que moram sozinhos, que tem ótimos empregos com altos cargos, uma vida próspera e são dependentes, dependem de suas muletas emocionais. Dependem da opinião de outros, dos sentimentos de seus conjuges, do controle dos seus filhos, das amarras sociais, de um relação pouco afetiva com seus pais, etc.
Então vamos pensar na independência um pouco além do desfralde precoce? Sim, sei que esse é um dos primeiros passos na vida de um adulto, mas então vamos pensar na qualidade dessa independência, vamos pensar que para ser independente é preciso ter uma boa dependência primeiro. E não sei, não entendo o motivo de essa ser a maior preocupação das mães, pois com amor e afeto a independência virá, e virá tão rápido que mal poderemos acompanhar,

num piscar de olhos saem de nossas barrigas e no outros levantam voo, e a nós só nos resta acreditar que fizemos o melhor para este passarinho sempre a sua casa voltar.

Um abraço

Thaiane

 


sábado, 7 de setembro de 2013

A postura de chefe na criação dos filhos




Esses dias passando por uma grande de livraria me deparei com diversos livros que prometiam noites maravilhosas de sono, filhos bem educados, crianças que não fazem birras e mais uma enorme quantidade de promessas que deixam de lado toda a fisiologia do desenvolvimento normal e saudável de toda criança.
Voltei para a casa muito, muito pensativa com essas questões, com essas respostas milagrosas e a única coisa que nao sai de minha cabeça: estamos em busca do bebê ideal?

Atualmente eu faço parte de aproximadamente 40 grupos de discussao sobre maternidade nas redes sociais, grupos de todos os tipos, que discutem amenidades maternas, ecléticos, que fazem meus olhos arderem, que discutem valores, métodos, especificos, fechados, abertos, gerais, etc. Alguns participo ativamente, outros não, alguns leio bastante, alguns sempre me excluo e sempre me incluem, alguns aprendo muito e etc. E em todos os grupos de mãe o assunto birra, falta de limites, palmadas, etc, vai surgir em algum momento, assim como essas afirmativas, por sinal muito defendidas pro profissionais e opinólogos de plantão: 

" Diga NÃO bem firme e séria quando seu bebê estiver fazendo algo que não pode"

" Mostre quem manda na casa"

" A criança TEM que respeitar a hierarquia"

" As vezes falar somente não adianta, então vale umas palmadas. Mas espancar não"

Crítica como sempre fui e sou, sempre paro para pensar nisso tudo. Durante muito tempo eu acreditei nessas afirmativas, durante outros tempos eu me incomodei com isso, e hoje em outros tempos paro para refletir.
E a pergunta vem à ponta da lingua: Estamos falando NÃO demais para nossos filhos? Estamos falando NÃO demais para a vida?
O não funciona muito pouco diante das crianças e é pouco eficaz, mas antes que digam que estou tentando impor a verdadeira teoria do caos, vou abordar um pouco as questões baseadas na administração.

Eu comecei a estudar administração desde os tempos do ensino médio nas aulas de geografia e história, e mais tarde tive que aprofundar os estudos na faculdade, porém só fui dar o devido valor a estas teorias quando me vi perdida e enlouquecida no ambiente de trabalho, onde as relações pessoais e profissionais eram decadentes, e a estrutura organizacional totalmente hierarquizada e pouco funcionante. E não preciso mencionar que este ambiente totalmente desorganizado e prejudicial me levou a inúmeras sessões de terapia e a vasta procura por literaturas. 
Trabalhar em hospitais é uma verdadeira prova de vida. Onde as relações tendem a ser hierarquizadas e as teorias de equipe multiprofissional funcionam muito bem no papel.

Quem já teve um CHEFE, no sentido próprio da palavra sabe o quão pode se tornar desafiante sair de casa e ir trabalhar. A figura do chefe é tida como uma figura de autoridade, já a do líder é tida como uma figura de orientação e motivação. 
Nas organizações empresariais o chefe é tido como aquele que usa de autoritarismo, coloca regras, tarefas e imposições, e seus subordinados são obrigados a seguirem suas ordens que nem sempre respeitam as necessidades especificas de cada um, demonstram inflexibilidade e pouca abertura ao dialogo.
Já o líder é tido como um orientador, motivador, que consegue compreender seu ambiente de trabalho e motiva as pessoas a atuarem de forma harmonica. As relaçoes são horizontais e se mostra aberto ao dialogo e sua postura é mais voltada a participação de todos.
A postura de chefia, tem proteção de sua hierarquia, onde pode agir com liberdade a sua própria maneira, não necessitando servir de exemplo, pois a ordem é: "faça o que eu mando". Nessas empresas o ambiente é tomado por descontentamento, desunião, falta de motivação e abandono de cargo, uma vez que poucos conseguem se manter em um ambiente negativo por muito tempo o que aumenta a rotatividade e diminui o bom funcionamento da empresa.
A postura de liderança já se reflete no exemplo do líder, o que demanda tempo e paciencia e habilidades pessoais para contornar situações desagradaveis e desafiadoras do ambiente de trabalho. Não conta com a proteção hierarquica, pois normalmente a relação horizontal é mais valorizada, portanto está mais exposto a críticas e também a elogios e a soluções compartilhadas de problemas. O ambiente de trabalho costuma ser mais harmonico, motivador e menos estressante, e o índice de absenteismo é menor.

Mas o que tem haver as relações do ambiente de trabalho com a criança de filhos?? Tem tudo haver!
Se o funcionário motivado trabalha melhor, uma criança motivada também ira se desenvolver melhor.
É muito mais fácil sentar na cadeira e dar ordens, ser impaciente por estar preocupado com os ganhos, despesas e trabalho a ser feito e todas as preocupaçoes de um chefe, sem levar em conta os meios, só pensando no fim, e sem ter uma visão muito clara do futuro, onde a preocupação maior é a imediata, é a tarefa. Assumir a posição de liderança exige tempo, paciência, perseverança e jogo de cintura. Para resolver problemas muitas vezes necessitará um grande mergulho em si mesmo e o reconhecimento de estruturas emocionais dolorosas, como motivar se está desmotivado?

Assim fazemos diariamente com nossos filhos. Temos inúmeros desafios em nosso cotidiano, chegamos em casa cansados pelo trabalho, e o jantar precisa ser feito, a casa precisa de cuidados, e ainda precisamos dar banho, ajudar na liçao de casa, botar para dormir, etc, etc, etc.
Daí acabamos não dando atenção devida, e nossos filhos nos respondem a altura, com impaciencia, com a birra. A birra nada mais do que a demonstração de um descontentamento, que nem sempre é devido a taça de cristal proibida, na grande maioria das vezes é pela atenção não recebida, e a taça de cristal é somente a materialização desse desejo frustrado.
É mais fácil dizer:
- Fulano, NÃO pegue a taça de cristal. Já falei pra vc que não poder mexer aqui.
E a criança responde pegando a taça olhando diretamente nos olhos da mãe como se a desafiasse, ou se coloca no chão em choro sentido.
Não seria melhor dizer:
- Fulano, eu sei que vc quer atenção e nesse momento estou tão cansada e não estou dando o que vc merece. Na sua idade eu também gostava de brincar com coisas que quebram, mas se a taça quebrar onde iremos tomar o suco de laranja gostoso? Mamãe tem que fazer o jantar vc não quer vir brincar na cozinha com os potinhos?
Cadê o NÃO??? Cada vez mais me convenço que falamos NÃO demais, que limitamos demais, que damos atenção de menos e não lideramos nossa casa, nós a chefiamos.
Nossos filhos são criados em um hierarquia verticalizada onde não é permitido questionamentos, onde não é permitido que se expressem, que chorem, onde precisam andar em cascas de ovos, onde devem muito e podem pouco. Queremos filhos educados? Que se sentem na mesa de um restaurante e se comporte? Queremos filhos perfeitos? Mas somos perfeitos? Somos pais perfeitos? 

Precisamos pensar em relações saudaveis e não em quem manda na casa, se oferecermos respeito e amor aos nossos filhos, eles nos retornarão respeito e amor. Colocaremos em nossa casa a harmonia, o dialogo. Precisamos de tempo, precisamos de jogo de cintura e sabedoria. Criar filhos é um grande mergulho interior, precisamos trabalhar sujeiras que teimamos em jogar debaixo do tapete, e isso não é facil, e por vezes é doloroso, porém é necessário.

Espero dizer menos NÃO ao meu filho, e dizer mais SIM à vida. Não preciso ensinar meu filho quem manda na casa, eu preciso amá-lo e motivá-lo a ser uma boa pessoa, e isso só tem um caminho, o exemplo.

Beijo em todos

Thaiane!